Onda de frio pode ser uma das mais intensas do último século
Publicado em 24/07/2021 às 15:38
Atualizado em 24/07/2021 às 15:38
Massa de ar frio de origem polar de grande intensidade vai invadir o Brasil na próxima semana e tem potencial para ser uma das mais intensas deste século a alcançar o território nacional sob um cenário de clima propício a eventos de frio extremo, Modelos numéricos analisados pela MetSul Meteorologia vem indicando de forma sistemática que será uma erupção de ar gelado muito intensa, mais forte que a de junho e a desta semana, e em alguns momentos chegam a sinalizar uma onda polar de excepcional força com magnitude raramente vista na história recente.
Que será uma onda de frio intensa não se tem dúvida, mas faltando ainda quatro dias para a sua chegada existem pontos em aberto como sua intensidade definitiva, o alcance do ar gelado no território brasileiro, e a possibilidade de neve, sua extensão e eventual acumulação e quantidade. Estes cenários devem ficar mais claros ao longo deste fim de semana e na segunda-feira com a maior proximidade do evento.
O ar polar deve ingressar no Brasil entre a terça e a quarta-feira, trazendo queda enorme da temperatura que será extremamente baixa na segunda metade da próxima senana. Modelos têm indicado que a temperatura no nível de pressão de 850 hPa, equivalente a 1.500 metros de altitude, que é parâmetro usado em Meteorologia para identificar o quão quente ou fria é uma massa de ar, ficaria entre -5ºC e -6ºC no Sul do Brasil.
Para se ter ideia do que isso representa, somente ondas de muito frio intensas atingem valores tão baixos e que raramente são observados. As ondas de frio intensas de julho de 2000 e de julho de 2007, por exemplo, tiveram valores nestes patamares.
Chama, ademais, atenção que os modelos têm indicado valores muito baixos no nível de 850 hPa não apenas no momento inicial do ar frio, por um ou dois dias como via de regra ocorre, mas para o período da quarta-feira até sábado da semana que vem, ou seja, por vários dias seguidos.
Isso representaria um período extremamente frio com mínimas e máximas muito baixas mais prolongado que o habitual. Há dados, inclusive, sinalizando que o ar polar se reforçaria se reforçararia sexta.
Não bastasse, no que também é pouco incomum, a linha de 0ºC no nível de 850 hPa alcança São Paulo e o Sul do Mato Grosso do Sul, ou seja, o ar polar poderia alcançar latitudes do Centro do Brasil com intensidade rara.
SEQUÊNCIA DE DIAS EXTREMAMENTE FRIOS
A massa de ar polar projetada pelos modelos é de tamanha intensidade que serão muitos dias consecutivos com temperatura média diária (calculada pelas mínimas e máximas) excepcionalmente baixas. O período de quarta até o sábado da próxima semana deve ser o mais gelado com máximas bastante baixas no período da tarde.
A presença de nuvens, ademais, em alguns dias pode fazer com que algumas cidades de maior altitude tenham temperatura abaixo de zero o dia todo com máximas em terreno negativo. As mínimas pode ser igualmente atipicamente baixas com registros incomuns de até 10ºC negativos ou até mais frio em áreas de maior altitude do Sul do Brasil.
O modelo canadense é um que, por exemplo, está indicando mínima de -10ºC a -12ºC para o final da próxima semana nos pontos mais altos do Sul do Brasil, mas valores tão baixos quanto -3ºC ou -4ºC que indica para áreas de menor altitude como, por exemplo, próximos a Porto Alegre são improváveis.
Dias com temperatura em 850 hPa de -5ºC a -6ºC, por experiência, costumam ter vento moderado e com rajadas em alguns momentos. Assim, a sensação térmica neste evento de frio será muito relevante. Com vento e temperatura excepcionalmente baixa como se prevê, grande número de cidades do Centro-Sul do Brasil pode experimentar marcas baixíssimas de sensação térmica.
Nas áreas de maior altitude do Rio Grande do Sul e do Sul do Brasil valores de sensação térmica (utilizando-se a fórmula mais moderna do National Weather Service dos Estados Unidos) podem atingir marcas neste evento polar tão baixas quanto -10ºC a -20ºC. No alto do Morro da Igreja, em Santa Catarina, a 1.800 metros de altitude, a sensação térmica pode ficar entre -20ºC e -25ºC. São valores perigosos que podem causar até congelamento da pele e do tecido inferior (frostbite) de partes expostas do corpo como dedos.
Urge-se às autoridades locais que reforcem com urgência as medidas de assistência à população socialmente vulnerável, especialmente diante do crescimento da população sem teto vivendo em situação de rua, uma vez que o frio terá intensidade para causar hipotermia e morte em pessoas desabrigadas.
GEADA
Vento e nuvens, em princípio, devem impedir uma sequência de dias de geada ampla e generalizada no Centro-Sul do Brasil. As projeções de geada em maior número de locais são mais para o final do período de pico da onda de frio, logo no final da próxima semana. A geada atingiria partes do Mato Grosso do Sul e de São Paulo, além dos três estados do Sul. É o que, por exemplo, mostra o modelo canadense para o fim da semana que vem.
Uma preocupação da MetSul neste evento, considerando a perspectiva de vento e de frio abaixo de zero em muitos locais, é o alto risco de que se produza a chamada geada negra. Não é a forma tradicional de geada que branqueia paisagens e cobre de gelo automóveis e telhados. Trata-se de um fenômeno em que se dá a morte de vegetais por congelamento.
NEVE
A probabilidade de nevar nas áreas de maior altitude do Sul do Brasil com base nos dados de hoje é muitíssimo alta. A cinco dias do começo do evento de frio, projeções de neve estão, contudo, sujeitas a enormes mudanças e o que se esboça nesta sexta-feira está longe de ser definitivo.
Hoje, o cenário que se apresenta, a partir da modelagem numérica e análise de eventos passados com características semelhantes, sinaliza a chance de precipitação invernal (neve em flocos, chuva congelada e/ou graupel) por demais alta nos pontos mais elevados do Sul do Brasil (cotas de altitude acima de 800 metros), chance média a alta em locais de média altitude (400 metros a 700 metros) e pequena a média em pontos de menor altitude (nível do mar a 400 metros) de diversas regiões gaúchas e do Sul do Brasil.
Qualquer cogitação de prever eventual acumulação por ora não teria fundamento diante de um cenário ainda muito aberto e sujeito a mudanças grandes nos próximos dias.
O que chama atenção é o indicativo de alguns destes modelos sobre a possibilidade de vir a ocorrer neve por três ou quatro dias seguidos no Sul do Brasil. Seria mais um acontecimento raro porque recentemente na onda de frio de junho tivemos o primeiro evento de neve por três dias seguidos no Sul do país desde a grande onda de frio de julho de 2000. Um novo episódio de três seguidos, um mês após o último que foi o primeiro em duas décadas, seria um fato excepcional do ponto de vista climatológico.
*Com informações do MetSul
Publicado por
Rádio Avenida
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